Ser rústico não é um problema para o Crocodilo,atacando
qualquer criatura - inclusive homens ele sobrevive há 200 milhões de anos
Nas águas barrentas do Rio Mara, no Quênia, os crocodilos se
preparam para o maior banquete anual. Eles aguardam pacientemente a chegada de
milhões de gnus – antílope africano com cabeça e chifre semelhantes aos do
búfalo –, que migram todos os anos em busca de pastagens verdes no país. Num
turbilhão apressado, os gnus se espremem em uma massa compacta e entram na
água. É quase um ato suicida. Em questão de segundos, o crocodilo-do-nilo
abocanha uma das pernas de um dos antílopes. Os dois animais travam uma
verdadeira batalha, mas, exausto, o gnu se rende.
O crocodilo é um dos predadores mais perfeitos que já
passaram pela Terra. Prova disso é que ele existe há mais de 200 milhões de
anos – foi contemporâneo do dinossauro, seu parente direto, que acabou extinto
65 milhões de anos atrás. A longevidade do crocodilo se deve, em grande parte,
às suas habilidades predatórias. Mas suas virtudes anatômicas e biológicas
também permitiram que esses répteis gigantes sobrevivessem e evoluíssem de tal
forma que é possível contar nos dedos seus verdadeiros inimigos naturais – nos
dedos de uma mão apenas.
O robusto crocodilo-do-nilo (a segunda maior e mais forte
das 23 espécies do réptil – a primeira é o crocodilo-marinho) reina soberano
nas águas de todo o continente africano. Medindo até 6,2 metros e pesando quase
1 tonelada, ele não escolhe suas presas: ataca qualquer corpo que se mova à sua
frente. Tomando seu banho de sol na ribeira, ou navegando pelo Nilo ou outros
cursos d’água, ele está sempre atento e disposto a fazer novas vítimas. Mesmo
que elas sejam humanas.
O crocodilo-do-nilo é, de longe, a espécie que mais mata
homens no mundo. Para as diversas populações africanas que habitam as áreas
próximas do Rio Nilo e nele lavam suas roupas, tomam banho ou mesmo brincam em
suas águas, a presença dos crocodilos é fatal. O número de pessoas mortas pode
ultrapassar o de uma centena todos os anos.
Mas o cardápio do réptil é muito mais amplo. Ao lado do
crocodilo-marinho (a maior espécie), ele é o único capaz de caçar grandes
mamíferos. Antílopes, zebras e javalis não têm chances contra o rei do Nilo.
Até mesmo leões, hipopótamos e girafas podem tornar-se presas fáceis quando
invadem seu território. A facilidade na hora de abocanhar suas vítimas é o
resultado de 66 dentes afiados e uma força descomunal dos músculos da
mandíbula, com potência que chega a até 2 toneladas por centímetro quadrado.
Hábil caçador, o crocodilo sabe muito bem como montar uma
cilada. Submerso com apenas seus olhos, ouvidos e focinho fora d’água, é
silencioso e paciente. Ele pode ficar mais de uma hora debaixo d’água esperando
sua caça. E isso só é possível graças a duas importantes características: um
baixo metabolismo e um coração adaptado. “Como é um animal de sangue frio, o
crocodilo tem um metabolismo lento. Ele usa o oxigênio em menor quantidade e
consegue ‘segurar’ a respiração por muito mais tempo. Além disso, seu coração
adaptado tem um vaso sanguíneo que permite que o sangue seja parcialmente
desviado dos pulmões enquanto ele está submerso, uma válvula que ajuda nesse
mesmo processo, e, finalmente, outros tecidos moles que desviam o fluxo do
sangue”, afirma Mason Meers, professor de biologia e anatomia evolutiva da
Universidade de Tampa, na Flórida, Estados Unidos.
Mas os artifícios de caça do crocodilo não param por aí.
Seus ouvidos são interligados e ele consegue manter o equilíbrio quando desliza
submerso pelo Nilo – ao contrário de nós, que podemos ficar zonzos quando
estamos boiando. Isso quer dizer que ele permanece camuflado como um tronco de
madeira e faz manobras debaixo d’água tão suaves que é praticamente impossível
percebê-lo. Uma vez perto de sua presa, seu bote é rápido – em menos de uma
fração de segundo, o crocodilo tem sua caça na boca. Astuto, sabe que se sua
presa for maior e mais pesada que ele, o mais prudente a fazer é trazê-la para
água e afogá-la. Se não, ele a desmembra imediatamente em terra firme,
segurando-a pela mandíbula e a girando rapidamente na superfície da água, até
que ela se despedace.
Com o banquete à mesa, o crocodilo divide sua iguaria com
outros animais da mesma espécie: o sistema hierárquico entre eles é bem
definido e, se o caçador for menor, ele terá que esperar outros companheiros
maiores se juntarem para comer. Mas o crocodilo só é sociável no momento da
partilha. Ele raramente caça em bando: prefere sair sozinho, mesmo correndo o
risco de encontrar outro indivíduo maior e mais forte – que certamente irá
atacá-lo se estiver com fome. Sim, há canibalismo entre eles, principalmente
quando um réptil grande e faminto se depara com um menos corpulento.
Uma questão polêmica, que ainda intriga os
pesquisadores, é sobre uma velha lenda que dá conta que o crocodilo se alimenta
apenas uma vez por ano. Embora não seja totalmente verdadeira, ela também não é
completamente falsa. “Essa história não é uma verdade absoluta. O que acontece
é que ele pode ficar um ano sem se alimentar, sem problema. Mas o que se
observou é que com isso o crocodilo emagrece demais e torna-se presa fácil para
outros crocodilos”, afirma Adam Britton, pesquisador sênior da Wildlife
Management International.
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